sexta-feira, 30 de abril de 2010

Mentir é humano!

Mentir é humano!
Escrito por Anne Crystie.
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Mentir não é nada feio. Quem falar que mentir é feio, faz e não sabe ou possui um ideal de belo malcriado.
Mentiu; todo mundo já fez um dia. Pra mãe, pra tia, pra Judas – ou Jesus, caso o leitor prefira... Até pra si mesmo. A automentira – como quer chamar o escritor – é a mais nobre delas. Do tipo que te põe no ápice da pirâmide das necessidades e na base de todas, exclamativamente todas, as pirâmides do Egito; aquelas que, quando criança, construímos de mentirinha na areia da praia, e que o mar, quando resolve mentir, vem e leva.
Mentiras sinceras só interessam - talvez as que mais. “Hey! Seu cabelo está bonito hoje.”, “Eu li um livro...”, “Eu ouvir falar...”, “A vizinha daquela amiga da minha prima disse...” (...).
Mentir por não querer contar é escrever uma história toda. É publicar, a depender do grau de paciência da vítima – ainda que não se saiba quem é a vítima. Só mentindo pra saber!
[De Pinóquio e louco, todo mundo tem um pouco.] Você pode almoçar e dizer que a sobremesa está espetacular, pode tomar um drinque num boteco e passar o cartão pra ajudar às obras de caridade da igreja...
De todos os tamanhos, cores e tons. De gente grande, de criança – aquelas que não sabem mentir, porque a mão fica amarela. Mentiras suas pra alguém... Até o escritor pode estar mentindo, caso você seja atencioso.
Ah! Posso jurar que nem sempre quem mente rouba. Mas aí eu vou estar mentindo. Tirar a verdade das mãos de alguém é mesmo que roubar doce de criança.
Roube de vez em quando. Uma brincadeirinha aqui, uma mentirinha ali... Faz bem para o ego! Seus cabelos ficam bonitos, as crianças da sua época respeitam os mais velhos, os políticos que seus pais elegiam eram mais honestos, sua avó tem setenta com cara de vinte e cinco.
No fundo, no fundo, só não existe aquilo que não pode ser imaginado (...). E quer coisa mais criativa que mentir? O parietal direito do seu cérebro brilha feito carro alegórico no carnaval. Ou seria o esquerdo?
Mentira não vai te levar a lugar nenhum. Também, para onde você poderia querer ir mesmo? Se você acreditar na minha mentira, posso dizer que nem o lindo mundo da imaginação, onde você vive, é de verdade. Você, de verdade, só pensa que vive.
My life’s good! Ninguém precisa saber mesmo - é mamão com açúcar. Todo mundo é capaz de brincar de acreditar, com a mesma intensidade que é capaz de produzir abalos nas cordas vocais quando sussura: Eu sou autêntico!
Ministério da Saúde adverte: mentir pode causar lesões na região nasal, e é contra-indicado em caso de suspeita de dengue, aids, câncer, adoção, relacionamentos amorosos ou qualquer outra coisa que pode matar.
Seja você mesmo! Senhor das suas verdades, das suas mentiras, das suas mentiras e das suas verdades. Mentir é mesmo que errar: é humano.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A lista

A lista
Escrito por Oswaldo Montenegro.

Faça uma lista de grandes amigos,
Quem você mais via há dez anos atrás.
Quantos você ainda vê todo dia?
Quantos você já não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha...
Quantos você desistiu de sonhar?
Quantos amores jurados pra sempre...
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece,
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava...
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava...
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo,
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava...
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava,
Hoje acredita que amam você?

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Tempo verbo (Anne Crystie)

São cinco para às três no meu relógio de parede-parado.

E quantos segundos não fazem que meu tempo se foi?
Quantos minutos que o meu rumo mudou?
Ou quantas horas que o meu mundo acabou?

Passam-se os meses, e eu vou riscando no anuário os dias mortos.
Porque é isto que sou: rasbiscos de matéria sem vida que amanheceu um dia, um mês, um ano.
Sou a energia que habita o tempo!

Habitou.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Escute, Zé-Ninguém! (Wilhelm Reich)


Pai! O sol desapareceu.
Para onde ele foi?
Será que vai voltar logo?

Sim, meu filho,
o sol voltará logo,
com seu calor generoso.