domingo, 29 de março de 2009

Há diferenças e controvérsias.

Nem sempre sou igual
Escrito por Alberto Caeiro.
(Fernando Pessoa)
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Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés -
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra

E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Que Brasil é esse? (Escrito por Anne Crystie)

Que Brasil é esse?
Escrito por Anne Crystie.

Pobre tribo...
Que já não enxerga o horizonte,
não canta a sua música
e nem atira a sua lança!

O Brasil do Cristo Redentor
é o mesmo do pobre favelado,
da prostituição, da corrupção,
do racismo, do desemprego...
Do jeitinho brasileiro de dar!

Os Chefes, coitados, cegos!
Nada vêem, por isso nada fazem.
Meros políticos, denominados “excelentíssimos”,
que iludem a nação e são aplaudidos a cada voto.

Os Sábios, justos,
que tudo vêem, e ainda nada fazem.
Que vêem as crianças trabalhando e fora da escola...
Que vêem o horário político pela tv a cabo
e riem dos governantes a cada erro de gramática
(no Brasil, o importante é fazer entender).

Os Guerreiros,
que não dormem e levantam-se às quatro da manhã,
enfrentam os transtornos do transporte coletivo,
enquanto admiram através da janela
o presidente de sua república
passear no azul do céu.

Porque aqui é o Brasil!
Das matas, do ouro, do céu azul.
O Brasil do progresso...
Mas, cadê a ordem?

Os Chefes na frente,
e os Sábios atrás,
ajudando os guerreiros
a manterem-se de pé.
Essa é a ordem.
A ordem que a esperança constrói.
Esperança de que as coisas mudem;
mas nada muda se você não mudar!

Brasileiros que não sabem ler,
aprendem a digitar o “verde”
e passam a exercer a democracia.
Democracia brasileira...
do voto aos dezesseis anos,
da mulher no mercado de trabalho,
do camelô, do franelinha (...).

Bola pra frente, nesse país do futebol,
porque ser derrubado na área é pênalti.

(...) Lá vai mais um pai
que passa fome para dar o que comer ao filho;
uma mãe que morre de sede
com água nos olhos.

Afinal...
O Brasil é uma pobre tribo
onde os Chefes são cegos,
os sábios são mudos
e os guerreiros
apenas se lamentam!

Nada muda se você não mudar!

Mude
Escrito por Edson Marques.

Crédito da Imagem: Anne Crystie.

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Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,
calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama...
Depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais... Leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida.
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Tente.
Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações. Almoce em outros locais,vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado...
Outra marca de sabonete, outro creme dental...
Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas,
troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros,
outros teatros, visite novos museus.
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Mude.
Lembre-se de que a vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação, um trabalho mais light,
mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,

longa... Se possível sem destino.
Experimente coisas novas.

Troque novamente. Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores

e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,

o movimento, o dinamismo, a energia.

Só o que está morto não muda!