Por mais que a moda seja outra, ou que eu já consiga falar em insights, digo que só agora me caiu a ficha.
Caíram-se as fichas, os cartões, as cartas de amor, os bilhetinhos de aniversário, os depoimentos, recados, torpedos, bocas, ouvidos, narizes, olhos e abraços.
De repente, como a onda que quebra, há muitos quilômetros de mim, apercebi que daqui a alguns anos, não verei e nem viverei tudo que posso fazer amanhã.
Sinto quebrar-me os braços e as pernas. Meu coração dilacera como cada letra dessas que colei, cuidadosamente, num fanzine não qualquer.
Os ódios deixam de estar aplacados, e grito o quanto odeio a geografia, a topografia, a rodovia. Sou capaz de detestar uma companhia aérea inteira.
Como sou fútil quando chupo sorvetes para esquecer que tenho de estar longe; longe daí, longe de tudo!
Pareço criança, encantada por morango em sache, lambuzando as palavras, os desejos, os medos, enquanto o tempo sequer pára pra me ver sobreviver.
Não. Não pareço criança! Pareço arcaica, mais ou menos uns setenta e dois anos. Sinto saudades da filha que casou e foi morar em Amsterdã. Do cachorro que morreu caindo das pernas, dos amigos que me carregavam no colo e beijavam-me a testa. Dos puxões de cabelos do irmão que não falava, e do que falava. Dos cafunés daquela que tem a minha idade, quando acho que sou criança. Das pilhérias, zombarias, sotaques e bostas.
Escorro tanto, e nada impede que eu tenha de cortar papéis, riscar marcadores e numerações. Derreto feito sol queimando a vida!
Acalmo-me, vagarosamente, me recomponho e coloco um velho amigo à mão - o único que pode sentir meu tato quando desejo tocar alguém, agarrar o mundo ou apertar o stop no controle do tempo; o responsável pelo que escrevo, a única coisa que posso fazer para me indignar agora.
Caíram-se as fichas, os cartões, as cartas de amor, os bilhetinhos de aniversário, os depoimentos, recados, torpedos, bocas, ouvidos, narizes, olhos e abraços.
De repente, como a onda que quebra, há muitos quilômetros de mim, apercebi que daqui a alguns anos, não verei e nem viverei tudo que posso fazer amanhã.
Sinto quebrar-me os braços e as pernas. Meu coração dilacera como cada letra dessas que colei, cuidadosamente, num fanzine não qualquer.
Os ódios deixam de estar aplacados, e grito o quanto odeio a geografia, a topografia, a rodovia. Sou capaz de detestar uma companhia aérea inteira.
Como sou fútil quando chupo sorvetes para esquecer que tenho de estar longe; longe daí, longe de tudo!
Pareço criança, encantada por morango em sache, lambuzando as palavras, os desejos, os medos, enquanto o tempo sequer pára pra me ver sobreviver.
Não. Não pareço criança! Pareço arcaica, mais ou menos uns setenta e dois anos. Sinto saudades da filha que casou e foi morar em Amsterdã. Do cachorro que morreu caindo das pernas, dos amigos que me carregavam no colo e beijavam-me a testa. Dos puxões de cabelos do irmão que não falava, e do que falava. Dos cafunés daquela que tem a minha idade, quando acho que sou criança. Das pilhérias, zombarias, sotaques e bostas.
Escorro tanto, e nada impede que eu tenha de cortar papéis, riscar marcadores e numerações. Derreto feito sol queimando a vida!
Acalmo-me, vagarosamente, me recomponho e coloco um velho amigo à mão - o único que pode sentir meu tato quando desejo tocar alguém, agarrar o mundo ou apertar o stop no controle do tempo; o responsável pelo que escrevo, a única coisa que posso fazer para me indignar agora.
Meu lápis grafite
Escrito por Anne Crystie.
Nossa, há tempos que eu não leio uma coisa tão intensa e bonita. Parabéns *-*
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