quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O medo que há em mim (Sérgio Pessoa Ferro)

Ao autor e parceiro das madrugadas literárias,
pela colaboração, poesia e canção diárias.

Crédito da imagem: Anne Crystie.

O medo que há em mim
Escrito por Sérgio Pessoa Ferro.

O meu medo barato olhos claros
olha pra mim
sem medo.
Eu, carrasco de mim,
[olho pro medo com medo
Ele, lindo moreno claro cabelo castanho
que mexe comigo por todo o tempo
me chama de noite,
[com a voz arrastada pelo ouvido sedento
Mas eu tenho medo de tudo,
[medo do escuro, do tempo
das crianças, minhas filhas,
[berrando pranto e lamento
Eu tenho medo da fome
[medo da gente que fala e não cala
minha fome e barriga.
Sou meio bandida sei que matei gente,
[mas mudei de vida.
Hoje sigo inclinada, empurrada pro mundo
[por um supereu que me leva e me puxa.
Diz o major que sigo por força,
[que sigo por febre ou por comida.
Diz o padre letárgico que sigo por fé,
[que sigo por sangue ou por ser única a saída.
Diz o político corrupto que sigo por vontade,
[que sigo por anseio ou porque decidi e quero.
Mas diz o meu pai, cá em casa, que sigo direita,
[que sigo correta senão perco filho,
[perco família perco tudo o que tenho.
Sigo com medo da morte, com medo da vida
Medo me corroendo
Prometem-me futuro divino, futuro seguro,
[mas não entendo o momento.
Por medo de tudo, do abismo adiante,
[do falso próximo passo
Medo do destino, do juízo moral
Clamo ao moço de olhos claros
[que se valha de mim
e
arranque de vez o medo que há em mim.

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O que eu te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. (Clarice Lispector)