E perdi um bom tempo ali, parada, vendo você sorrir. Desligada do mundo. Eu ganhei toda uma eternidade do seu rosto. Perdi-me quando lhe toquei. Achei-me porque lhe quis mais de perto, incerto. Mas que há além dessa loteria? Você é o meu prêmio. Apostei todas as fichas. Ganhei o que o dinheiro compra e o que não parcela. Minha felicidade nunca valeu tanto. Muitas barras de ouro sem dedução fiscal. Nunca foi tão barato como é quando estou com você. São tantas luzes, que se acendem e se apagam desaceleradamente, tantos fogos queimando menos que em mim... O dia já parece nublado. Mas eu insisto a querer outro gole, não importa. Mais um trago do seu suor. Completamente envenena por sua língua. É uma aventura alucinante. É isto que quero dizer! Um ir-e-vir desesperadamente fora de órbita. Faz tum às vezes. Outras dói. E como aperta! Espreme tudo que há em mim, em busca de algo que não tenho e que sou eu. Você não me pertence. Não somos conjuntos que se abocanham num plano perfeito. Você me domina. Eu venho sempre à frente nessa cadeia alimentar. E você por cima. Cintilando como se não me pertencesse. Nenhuma guerra fria lhe nega. Ficam os portões. Tolos! Nem um dilúvio é capaz de amedrontar a chama. Venta você em mim, se um ou dois, se uno ou doce. É o ar que respiro. Vivo do carbono da sua imagem, do universo do seu sorriso. "Quando a gente se ama". Essas são as cinco pedras cantadas do meu jogo.
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O que eu te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. (Clarice Lispector)
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