Crédito da Imagem: Anne Crystie. |
"Aos poucos, temos nos tornado insensíveis a uma
tendência não essencial a todas as coisas de subordinar tudo ao comércio."
Bem
antes que o sábio Sócrates, na antiga Atenas de quase 400 anos antes de Cristo,
proferisse o bordão “só sei que nada sei”, creio eu que saber ou não saber
alguma coisa já era motivo de discussão. Questionar se é realmente o
conhecimento irresistível parece perpassar todas as épocas e credos, desde
algumas onde este era o motivo da hierarquia dos tementes em Deus até outras
onde há dúvidas se quem é mais é quem tem mais ou quem sabe mais.
Entretanto,
o que tem pra hoje parece mais simples que desenovelar se é melhor saber ou não
saber. Digo, o que me traz a essas palavras é a realidade atual do sistema
superior de ensino: os anseios e objetivos que levam os jovens, os adultos e/ou
os idosos a adentrarem ao mundo da Universidade – ou mesmo a se deixarem ser
empurrados a ele. O que querem os pais com “meu filho já vai pra faculdade” e
os meninos de cabeças peladas com “passei no vestibular”?
Ao
longo da história, desvendar no ambiente da escola os “mistérios da vida” (se
assim me permitem resumir todas as nossas incertezas e verdades absolutas) foi
acompanhado de inúmeras e mutáveis conotações. Num dos princípios gregos, por
exemplo, Platão e Aristóteles sentavam seus discípulos em suas academias a fim
de amar o conhecimento, ou seja, filosofar. Já um pouco mais próximo de agora, no
início do século XIX, com a vinda da família real ao Brasil, nasce o interesse
de criar escolas médicas nas praças tupiniquins. Diferente dos filósofos, esses
portugueses-índios, ao que parece, mais queriam honra, sabiás e vida longa a
qualquer demonstração pública de afeto...
Tarjar
as testas com o símbolo “calouro” por muitas horas e anos e mãos significou (e
significa), sem dúvidas, realizar um sonho. Todavia, o crescimento desenfreado
das privatizações do ensino superior junto ao alargamento territorial dos campi públicos, bem como a moda bancária
de que feliz é quem é rico e rico é quem tem diploma, têm modificado um tanto
essa equação. Entrar pra faculdade nem sempre quer dizer querer ser cientista
ou artista, nem mesmo produzir conhecimentos e aprimorar técnicas, mas outra
coisa...
É
cada vez mais numeroso o time daqueles que estão lá, perdendo quatro, cinco ou
seis anos, para, enfim, “ganhar dinheiro”. Imprimir diplomas no Brasil (digo
aqui porque não tenho reflexão para tratar também das circunvizinhanças), cada
vez mais, tem sido determinante de uma suposta/ilusória riqueza e não de uma
dada/real sabedoria. Os pais não acreditam que os filhos podem ser
bem-sucedidos fazendo bolos ou consertando sapatos, como antigamente; os filhos
não se convencem de que ter uma casa com piscina é mais fácil a partir daquilo
que se faz melhor e, às vezes; até os governos não sabem se o que vale mais é
saber ou ter.
Aos
poucos, temos nos tornado insensíveis a uma tendência não essencial a todas as
coisas de subordinar tudo ao comércio. Em rápidos traços: estamos vivendo a
mercantilização [até] do conhecimento! As crianças não são inqueridas mais
sobre o que querem ser quando crescer. Ao invés disso, nas ruas gritam os
adultos imaturos o que querem ter quando forem adultos e ainda imaturos. São as
engenharias cada vez mais cheias pela copa e pelas olimpíadas e a medicina sem
cadeiras, sem escutas, sem humanização, sem boas perspectivas...
Daqui
da minha sala de aula, é sim o conhecimento irresistível. As janelas refletem todo
o tempo aquilo que sonho e os livros me levam a lugares que salário nenhum
jamais comprará. É que penso como Da Vinci: para mim, “todo o nosso conhecimento
se inicia com sentimentos”. E se é assim que ele começa, não vejo motivos para
que termine ou prossiga de outro modo. É preciso amar aprender, gostar do que faz,
apaixonar-se de novo e outra vez pelo desconhecido a ser conhecido. Há coisas
que não estão à venda e, por isso, ninguém jamais terá felicidade se antes não
for feliz.
Abril de 2012
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O que eu te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. (Clarice Lispector)