sábado, 29 de outubro de 2011

A solução é educação! (Anne Crystie)

Crédito da Imagem: Anne Crystie.
"Abaixo a modéstia, digo como a cantora de Raio da Silibrina que: 'a solução é educação, para evoluir essa nação!'"


Pode parecer inusitado, mas a inspiração primeira para as palavras que hoje aqui escrevo não veio dos murmurinhos sobre evasão e muito menos da medicalização da diversidade na escola. É um entusiasmo fruto do gingado do forró, filho de uma companhia que, há uns dez anos atrás, talvez, remexia os casais animados questionando onde estaria a ordem e o progresso de nossa bandeira.

As práticas educacionais que me formaram por hora têm me intrigado imensamente. Não que eu não tenha conhecido ótimos educadores e aprendido a ler e escrever no tempo certo. Longe disso! Sou grata, inclusive, por ter tido professores-pessoas que me apresentaram para além da raiz quadrada de oitenta e um, a possibilidade que eu tenho de negar toda a matemática, caso assim me apeteça.

O incômodo que me acomete, fora todas as inconsistências que poderíamos citar, uma por uma, em relação às políticas educacionais brasileiras, gira em torno dos processos avaliativos vigentes que, audaciosamente, classificam não só os alunos, como toda a população brasileira, em aptos ou não aptos a rodada de dados seguintes. Aproveitando-me do que tem repetido a moça na televisão nos últimos dias, pela proximidade do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM: “o caminho mais democrático” para ter passe livre a qualquer coisa que envolva educação no país não me parece nada popular.

No curso de Psicologia, nos livros de poesia e nas batalhas da vida diária nos deparamos inocentemente com uma indagação chamada “subjetividade”. E aí que os professores têm que acompanhar os ritmos de cada criança numa sala de quarenta, os coordenadores distribuir simpatias de acordo com as classes matutinas, vespertinas e noturnas e os diretores valorizar e criticar o que as crianças, os professores e os coordenadores têm de melhor e de pior, respectivamente. Afinal, que qualidade de subjetivo os modelos de avaliação que nos nivelam resguardam?

Dona Maria, que mora há muitos quilômetros do centro da cidade, prepara chás farmacêuticos como ninguém e é capaz de olhar o céu indicando as horas e o clima que estão por vir. Zezinho, duas ruas depois do centro, pega nos livros de vez em quando, ajuda o pai consertando bicicletas, entende de mecânica de carros aos dez anos e teatraliza de forma encantadora um grande cientista. Antônio, mora em outra cidade do interior, recém-formado em Medicina, passou no vestibular em uma boa colocação e ainda decide o que fazer da residência. Quem está presente, mestre? Ou quem leva nove na arguição de geografia?

Saber ou não saber perpassa por um processo de ensino-aprendizagem muito mais complexo e completo do que podemos analisar em nossos mapas pedagógicos. E por assim dizer, coagir que os filhos da Dona Maria, os irmãos do Zezinho e os pais de Antônio levem cinco horas a marcar “xises” numa folha azul não mede as suas capacidades e lutas para adentrar a qualquer sistema público ou privado de ensino.

Ter educação, diferente de ser controlado, requer para tirar a prova mais que dois dias a cada ano e grande pecado é cometido com aqueles que precisam repetir a sabatina no ano que vem. Ou invés disso, é preciso que os caras lá de cima ampliem as estratégias e vagas democráticas, como dizem, e não que nós, do primeiro emprego aqui embaixo, joguemos na loteria por um reconhecimento público de merecimento e esforço.

Abaixo a modéstia, digo como a cantora de Raio da Silibrina que: “a solução é educação, para evoluir essa nação!” Que todos nós sejamos preparados para reconhecer a sabedoria que é do outro, estimando o conhecimento que é nosso e afrontando o que já está dado por espaço àquilo que não se aprende nas aulinhas de inglês. Uma reeducação como tarefa de casa a todos, para que as subjetividades sejam respeitadas e cada um tenha direito a desfrutar de sua devida carteira nas salas de aula que é o nosso país.
Outubro de 2011