segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Inspiração (Anne Crystie)


Naquele dia, não sei se noite, escorreguei meus passos na areia
Só pra apanhar os teus pés que por ali passeavam.
Desperdicei meu sangue, minhas veias, todos os átomos,
Tudo, só pra te amar.

Provei do teu café amargo,
Que mais me pareceu veneno visitando meus punhos,
Circulando feito o ar que adentrava meu ventre.
Pouco a pouco, mordi as unhas e comi os dedos.

Bebi da minha própria fé.
Um cálice de incredubilidade!
Dois fracos de desejo e três ódios do teu beijo...
Do teu rosto, teu gosto, tua canalhice inteira.

E dancei a sua música, como se teus olhos me fizessem carinho.
Pulei na tua nuca, cantando o tom do passarinho.
Pernas, orelhas, nádegas e só.
Pouco grande és tu e muito ínfima sou eu.

Naquela noite, não sei se dia, minha pele ardia
Feito o encaixe dos teus lábios nos meus.
Mas, jamais apagaria o fervor que o teu íntimo explodiu em mim.
Acenderia um cigarro, abriria o portão; deixaria qualquer coisa entrar.

Algo puro que preenchesse o labirinto que há aqui.
Menos místico, um tanto tímido;
Talvez leve e mais breve.
Rápido feito minhas mãos no teu zumbido.

Eu sei que mais tarde me calaria.
Mãos frias, pêlos longos, tontos, arredios.
Seios não mais macios, com ou sem rancor...
Ainda que belos como uma flor.

Cortaria-me os pulsos,
Roubaria-me a vida, a despedida, o abrir e fechar.
Pois, pouco sem você é tudo,
E muito sem você é nada!

2 comentários:

O que eu te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. (Clarice Lispector)