quinta-feira, 17 de março de 2011

Bonecas aos meninos, carrinhos às meninas! (Anne Crystie)

Crédito da Imagem: Anne Crystie.
"O machismo, intrínseco a conjuntura atual, esconde uma lógica que, por vezes, não nos damos conta."


Há dessas coisas no dia-a-dia que nos inquietam a ponto de sermos intolerantes diante de ações e/ou atores. Nas últimas semanas, pois, tenho me atentado facilmente para aquilo que dentro das grandes ou pequenas lutas sociais etiquetam de “desigualdade de gênero” – vulgo machismo.

Desde muito jovens ou, por que não dizer, desde o período pré-natal, somos educados a valorar a classe de gênero que pertencemos, se homem ou mulher, seguindo preceitos que foram traçados “mil anos luz” atrás. (...) São as meninas para casar e os meninos para sustentar a casa! Rosa quando mulher, azul quando homem. E tudo parece tão estagnado que sequer percebemos, às vezes, que o mundo dá voltas...

O conceito de gênero não se refere exatamente aos homens e mulheres, mas as relações entre eles. Esse subentende uma série de processos culturais, sociais, políticos e morais, que atuam como atribuidores de valores a essas relações. Tudo arquitetonicamente prático se, frequentemente, não fosse designado à mulher uma posição subalterna.

O machismo, intrínseco a conjuntura atual, esconde uma lógica que, por vezes, não nos damos conta. Digo: as atitudes de discriminação contra a mulher e a não aceitação da igualdade de direitos entre os gêneros são passadas de geração a geração como se assim houvesse de ser feito. Somos alienados a concordar com uma política que desconsidera o fato das pessoas serem iguais entre si, por não levar em conta a classificação majoritária dessas, que é a de ser humano.

(...) E defendemos que chorar não é coisa de homem, porque a mulher é o sexo frágil; que as roupas são melhor lavadas ou as comidas mais saborosas caso passadas pelas mãos femininas, mas trocar lâmpadas e bater pregos são trabalhos de macho; as mães trocam fraldas e têm seis meses de licença maternidade, enquanto os pais dão broncas e se ausentam apenas cinco dias do trabalho.

Você já parou para pensar que, talvez, se as garotas em suas infâncias brincassem sem culpa com carrinhos evitaríamos essas anedotas de que “mulher no volante: perigo constante”? Não quero validar teorias ou afirmar hegemonia de minha opinião. Ambiciono tão-somente que reflitamos que a fronteira existente entre pessoas que se comportam como homens, ou como mulheres, é mesmo que a linha do Equador: imaginária!

Os meninos podem, sim, brincar de bonecas! Afinal, as bonecas, além de entreter, não servem para que as meninas fantasiem a reprodução, o cuidado e o conceito de família? Homens também reproduzem, cuidam e constroem família. E se sua esposa está grávida: parabéns, você está grávido! Soa estranho, mas esta palavra existe no dicionário.

É isso! Torçamos pelas mulheres no futebol sem preconceito e não questionemos a orientação sexual dos cabeleireiros por sua profissão. Alguns homens varrem muito bem a casa e há excelentes engenheiras por aí. Misturemo-nos neste caldeirão de iguais que se dizem diferentes! A ideologia feminista, ao contrário da machista, não defende que as mulheres sejam superiores, mas que tenhamos todos, homens e mulheres, direitos iguais.

O fim da desigualdade de gênero é uma das chaves para o desenvolvimento. Abramos este baú! Para isto, fica a recomendação de Charlie Chan: “Mente humana, como pára-quedas: funciona melhor aberta.”
Março de 2011

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O que eu te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. (Clarice Lispector)