quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Política versus Politicagem (Anne Crystie)

Crédito da Imagem: Anne Crystie.
"É tempo de refletir o resultado da aritmética que pesa os pontos positivos e negativos dos comportamentos da classe e de seu representante."


Salve 1º de janeiro! É chegado o “ano de ouro”, quando, com os nervos à flor da pele, um, dois, três ou cinco cidadãos de bem, homens do povo, voam rumo aos púlpitos governamentais. Alguns deles foram árduos operários ou sonhadores nos últimos três anos e outros aproveitaram o prazer das praias do exterior. Um possivelmente foi nomeado de surpresa, dois emprestaram o nome e o quinto quer ganhar dinheiro e ser popular. Tem ainda aqueles que estudam Marx e distinguem perfeitamente a mão direita da esquerda. Os da tradição, que acreditam no potencial da família enquanto instituição... O homem de boa oratória... Até que pra última chapa, então, há sempre um deus que abrirá os mares!

Ano de política, no qual as pessoas, como nos anos anteriores e todos os anos, fazem uso em potencial do seu direito e/ou dever de eleitor. É tempo de refletir o resultado da aritmética que pesa os pontos positivos e negativos dos comportamentos da classe e de seu representante. Diferente do último apenas por resguardar em um dos seus meses o evento da eleição, 2012 deveria ser simples assim caso, claro, vivêssemos o ideal da política ao invés da realidade da politicagem.

Nos cientistas sociais mais arcaicos somos capazes de ler que o homem em sociedade é um ser naturalmente político. É a política que organiza as aptidões de cada um a fim de que todos, dando um pouco de si, ajudem aos seus e aos outros. Nela devemos encontrar a garantia da igualdade, de que os peixes e pães chegarão à mesa dos brancos, pretos e cinzas. Das mais antigas, é a arte de proferir a palavra de um conglomerado pela boca de apenas um e a astúcia de fazer valer a todos meio ao pluralismo de necessidades e opiniões. É bonito de se ver e, infelizmente, tem sido difícil de se viver.

Luís, Barack, Getúlio, Hugo, Adolf, Evo, George, Ernesto, Fernandos... Em sua minoria do sexo feminino, muitos são os apelidos que se atreveram a ocupar a comissão de frente por uma sociedade mais democrática, aristocrática, comunista, capitalista, socialista, humanista, individualista... Igualitário ou hierarquizado, não se sabe. Pois o que importa é que somos todos do grupo ou companheiros dos opositores a ele. É que ao que parece não é a ideologia que tem alimentado os partidos e coligações e nem a justiça que tem impulsionado os do contra: estamos cada vez mais (des)protegidos pela politicagem!

Se a saúde ficou por conta do estado, direi que o prefeito não tem competência, criarei nova secretaria para empregar um candidato a vereador não eleito, assumirei sem qualificação o status de uma coordenação, aceitarei os tijolos que faltam no muro e aprenderei que tudo se resolve depois do carnaval na pizzaria. Um jogo de sistema e soldados que nos bestializa o tempo inteiro enquanto procuramos em quem pôr a culpa, quando, em verdade, somos peça do quebra-cabeça. Pois não tem importado a real denotação de “ser político”: o mais divertido é “ser politiqueiro”, beber cerveja de graça no dia do comício e torcer para que minha irmã receba sem trabalhar ao mesmo tempo em que meus filhos não têm escola de qualidade.

Se inconsciente ou não, nutrindo-nos de ignorância não percebemos que tirando proveito daquilo que é de todos (ou do outro) estamos burlando a nós mesmos. É que na brincadeira do cooperativismo das aptidões, tudo que vai, volta. E é assim que se mais vale um voto do contratado que a dedicação do concursado, preferimos ao invés de eliminar um pino, derrubar todo o tabuleiro. “Antes minha conta bancária repleta de dólares advindos da cueca ou das meias, que o agricultor, antigo sem terra, enriquecendo minha empresa de implementos agrícolas”...

Pelo rico cada vez mais rico e o pobre cada vez mais miserável! E assim caminha um país que canta a “erradicação da pobreza”: impossibilitado de fazer bom uso do poder que tem nas mãos por conta das cartas que esconde nas mangas. Longe, e um pouco mais longe, do pódio pleonástico da “política para todos” e perto, excessivamente do lado, das piscinas da politicagem, que jorram ondas de exclusão, afogando esses nossos ideais insossos de bons samaritanos. E viva 7 de outubro!
Janeiro de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que eu te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. (Clarice Lispector)